REASONS; THE AARON SWARTZ LIBRARY




In a nut shell (pls, Brazilians, do not translate that as "numa casca de noz"!!), Aaron Swartz was the antithesis to this picture.

Regretfully, we today face the future without him.

We face, still, a primitive world where laws are tougher with thinkers.

I have spotted something curious, a direct correction: the more a political unit is ridden with corruption, the more public authorities' voice increases in tone: "We must set an example!". That came out of the mouth of public prosecutors in the Brazilian state of São Paulo, when addressing the case of a twenty-something law student who tweeted, when she knew Dilma Rousseff had won the final round, something like this: pls let a person from the northeast be drowned.

Northeast is the part of Brazil where Rousseff's (and Lula's) party is very strong - politically speaking, people there vote for assistance and assistance.


the more a political unit is ridden with corruption,
the more public authorities' voice increases in tone.


The girl just mentioned immediately lost her job. And her scholarship. When I last read about the case, she had been found guilty, but I think she could appeal by that time. No more did I hear about it. About the 'example' the authorities need.

I still ask myself, What if she was not a girl? If the tweet had come from a young man? Or from a wealthy person?

That very body of prosecutors keeps a High School - and housed an international seminar, while that girl was facing charges for racism. In that seminar, an American specialist was invited to argue that "the legal system should not aim at punishing, but at educating and integrating."

Today, papers are once again showing prosecutors targeting at students - this time, dozens from the University of São Paulo (USP).  And they are openly determined to punish.

Authorities pursue. That seems to be a long surviving method, they have consistently applied when striving  to set themselves as 'examples. But setting examples of what?

When the future is at stake, that is the most relevant question to which a reply is still missing.

I do not see Aaron as a martyr. Some appear to try to make him fill a hole - I fear that hole is the very endless fight of the Rebel.  And to get the meaning of rebel here, one must read The Rebel, here.

We should use libraries to become able
to ask essential questions
The Library named after Aaron we started on the 30th-day anniversary of his death does not intend to fill any hole.

Regretfully, most of us use libraries to eventually become authorities, eager to be seen as 'examples'. We should use libraries to become able to ask essential questions. One of them, again, is: Examples of what? We have failed to use libraries to answer that question.

And one result of that was Aaron's suicide at 26. His age must remain part of the fact. It should have been a big factor when that certain prosecutor-pursuer was building his case against Aaron.  
It wasn't. His 'exemplary' performance was his final goal.

The name of the prosecutor we omit here is found in the report of Aaron's memorial, whose link is


Aaron Swartz's suicide - a 'stop-that-ado' article and a reply

IN one The Telegraph blog, Brendan O'Neill points fingers to those who "politicize isolated suicides", what he sees as "cowardice", adding that changes in law or policy resulting from those  campaigns are a "terrible idea".

As to the suicide of Aaron Swartz specifically, the author dares to surpass himself in bad taste by, making associations with Swartz's expertise, asserting that those who play honor treat "him [Swartz] as an automaton who was programmed to self-destruct by evil people in authority". The article tries to convince that there is only one to blame for the tragedy: Aaron himself.

We have commented on that as follows:
It takes some courage to point out that a suicide is a "conscious act". Is someone similarly "conscious" just after hitting his knee against the leg of his desk?
It was not quite wise to suggest that "more people" is somewhow equivalent to Aaron Swartz, whom I regret not having ever met. By stressing "isolated suicides",  it is implied that you do not actually believe those 'more people'  (prone to commit suicide) exist.
There is some sense in feeling uncomfortable with "political martyrs". We all know how Jesus dead turned out to be more threatening than he himself alive. A way to soothe that revolt is to create a heroe or saint, just the opposite of what you assert. But saints or heroes are not equally adored. And that your confusing text is proof of.

Liberdade de crença... E há liberdade na crença?

Há liberdade na crença?

  • A crença não pode mais justificar a falta de informação. Mas o que ainda caracteriza de forma marcante a atuação de líderes religiosos é o bloqueio, ou o desestímulo, à obtenção de informação por parte dos que estão sob sua liderança.

  • Charles Kimball, no livro When Religion Becomes Evil (Quando a religião se torna um mal, 2002, não traduzido), demonstra que tal embaraço à informação constitui indicador de que a religião está corrompida; de que algo está errado. Ele afirma: “... obediência cega é sinal seguro de religião corrompida” (p. 72).
  • Entretanto, fé e informação, para a maioria, soam incompatíveis, talvez desde que (São) Tomé se tornou tão conhecido quanto Jesus – Tomé duvidou; Jesus recriminou. Não se pode afirmar que o referido diálogo entre Tomé e Jesus tenha de fato ocorrido. Muito provavelmente, trata-se de mais um entre os diversos trechos intercalados no texto evangélico, para induzir determinado comportamento. Seja como for, fé como “crer sem ver”, sem conhecer tornou-se, sem dúvida, uma definição de fé das mais populares.

  • Albert Einstein fez a física se render a ele. Mas não obteve reconhecimento no campo da fé, apesar de ter produzido centenas de pensamentos a respeito. Seu “fracasso”, quase certamente, reside em ele diferir do popular Tomé. Para Einstein, a verdadeira fé é alcançada quando nos superamos no conhecimento pautado na razão. A fé verdadeira, para ele, não dispensa a razão; ao contrário – não vem sem ela. Ninguém quase lhe deu ouvidos aqui.

  • Não apenas C. Kimball permanece sem tradução para o português. Bart Ehrman é outro. Esse professor norte-americano, com diversos títulos publicados pela Oxford University Press, há anos confirmou, p.ex., que não se pode atribuir a autoria dos evangelhos a Marcos, Mateus, Lucas e João, o que causaria espanto entre quase todos aqui.
[Este meu texto é de 2005. Em novembro de 2006, o primeiro livro de Ehrman em português foi publicado aqui. Na capa, lia-se "A maior autoridade em Bíblia da atualidade" e "Primeiro lugar nos EUA". Não ficou você sabendo de nada? Não chore; não foi o único. O livro foi direto para a prateleira rente ao chão, em todas as melhores livrarias. Veja, a "indispensável"? Dispensou Ehrman. Nada, nem mesmo uma minúscula notinha. Hoje o livro é encontrado em qualquer "botequim", na versão livro de bolso, R$ 19,90. Não perca, meu! Nessa edição não há os "elogios". Mas o texto, numa edição pobre, pobre, está lá. A introdução é imperdível. o melhor do livro, para mim, que o li... antes de todo o mundo, no original, claro. Misquoting Jesus.]

  • Em 13 de março de 2005, O Estado de S. Paulo publicou “Um silêncio difícil de amordaçar”, de Maria José Rosado-Nunes, no qual é apontada a omissão em matéria de informar por parte da Igreja. Assim, diz o artigo, o público católico permanece alheio ao fato de que no “campo da Teologia moral, há diversidade interna em relação a práticas aceitáveis quanto à sexualidade e à reprodução humanas”. A autora, focando o aborto, defende que informar permitira às mulheres católicas “uma decisão informada religiosamente”. Essa nos parece uma meta ambiciosa.
  • A própria decisão de crer deveria ser “informada”. Devemos reconhecer que não é. Ninguém, hoje, parece imune à transparência em relação aos produtos e serviços que oferece ao consumo, desde os fabricantes de cigarros e bebidas, até os de sucrilhos e achocolatados. Quase ninguém – os grupos religiosos ainda são exceção.

  • Os praticantes da religião continuam a ser induzidos a crer. Sem informação. Em nenhum templo ou igreja encontra-se o aviso:as narrativas do Novo Testamento foram manipuladas por interesses, ao longo de séculos”.

  • Crer é nocivo à saúde? A estranheza que a pergunta provoca é outro sinal de que estamos desinformados.

  • Crer é responsável pelo entorpecimento do curso evolutivo da humanidade. Essa é a tese proposta pela Fundação Logosófica, uma entidade mineira, em sua publicação Logosofia (no 8, 2004, p.15). O caminho, ela defende, deve ser o do saber, não o do crer.

  • “A fé é perigosa. Remove montanhas, mas também joga bombas e impõe censura”, declarou à Veja (16.02.05) Roberto Romano, do departamento de filosofia da Unicamp. Como sugerem as palavras desse professor, não há consenso em relação ao papel da fé nos rumos da humanidade.

  • E de que fé estaríamos falando? Da fé que apregoa o “crer sem ver”, ou da fé de Einstein, que só viceja na trilha do conhecimento racional?

  • Se quisermos defender a fé como “crer”, a revista Veja, n. 1834, 24.12.03, oferece argumentos entremeados de variadas fontes, entre elas Darwin. A matéria, na p. 110, conclui: “Tudo o que se leu acima são interpretações científicas do mais espetacular fenômeno da humanização, a necessidade de acreditar”. E acrescenta o parecer de um biólogo da Universidade de Harvard: “A aceitação do sobrenatural significou uma grande vantagem por toda a pré-história, quando o cérebro estava evoluindo”.

  • E depois da pré-história? “O sistema religioso apresentou uma grande vantagem para os governantes. Se a regra foi estabelecida por uma instância maior, divina, as pessoas não têm o direito de mudá-la, finaliza a referida matéria, citando um professor da PUC de São Paulo.

  • Ou seja, se o cérebro humano evoluiu com a crença, os governantes, com o mesmo recurso da crença, subjugaram, posteriormente, os cérebros. Parece, também, que temos bombas demais explodindo, para cérebros supostamente evoluídos.

  • Os grandes grupos religiosos “dão a volta” no que seriam cérebros evoluídos, submetendo crianças à doutrinação, à catequese, porque estão cientes de que aquilo em que se acredita aos 13 anos tende a persistir por toda a vida, diz a revista especializada Education Digest (v. 70,2 - outubro 2004). Em artigo focando os Estados Unidos, são apontadas diversas iniciativas, algumas delas violando a lei, para levar à evangelização de crianças. George Barna, líder evangélico, autor do livro Transforming Children into Champions (Transformando crianças em campeões), é assim citado: “... o evangelismo deve visar toda criança mais nova, porque, ao atingir os 10 anos, a maioria delas não está disposta a mudar de idéia quanto à religião” (p. 49 da edição de Education Digest discriminada acima).

  • O jornalista Bill Maher, em artigo para a revista Details, julho 2003, conta que ele também foi levado a acreditar em muitas coisas sem sentido, quando tinha apenas cinco anos. Mas, emenda irônico, tudo mudou “porque fui capaz de concluir o curso médio”. Contudo, no mesmo artigo, ele próprio constata que muitos outros continuam a crer, sem análise crítica. Jocosamente, o jornalista desnuda, ao longo do artigo, como a história desmente diversos ditames da doutrina cristã.

  • A Fundação Logosófica, na mesma edição da publicação já mencionada, também alega que crer entorpece ou mesmo anula a capacidade de raciocinar e acarreta “desorientação extremamente lamentável”.

  • Sabemos, entretanto, que curas e bem-estar são efeitos também alegados, e mesmo alardeados.

  • Em O Código Da Vinci (de Dan Brown), o personagem principal afirma que os crentes conhecem a história de sua religião e, portanto, o que ele dizia não seria motivo para manifestações iradas. Já o jornalista e escritor Juan Arias declarou, para Galileu (ed. especial n 2, julho 2003), o contrário: ele constatou a ira acompanhada de desconhecimento.

  • Eu mesma já fui alvo da ira de alguns, entre eles um padre. Em um sermão dominical (08.12.2002), ele trovejou, dirigindo o olhar flamejante para mim: “Será que tem gente que só gosta do pai? Não gosta da mãe?... A gente precisa rezar por essas pessoas, mas a vontade que a gente tem é de mandá-las para o inferno”! A razão de tanta fúria: foi parar nas mãos dele um livro de minha autoria, no qual questiono passagens dos evangelhos alusivas à Virgem Maria. Eu, então, começava a rever minha “fé”. Mas, para tal padre, não crer na Virgem é não gostar da própria mãe.

  • Nas classes mais favorecidas inclusive, o comum entre nós é crianças e adolescentes terem aulas de religião (doutrina católica), em vez de aulas de história das religiões.

  • Muitos, ainda, detêm a idéia de que o desenvolvimento moral depende de se ter uma religião. Isso é o contrário do que estudiosos afirmam. O desenvolvimento moral provém da percepção de valores, enquanto que práticas religiosas, entre elas a confissão, tendem a inibir aquela percepção:
    Promover a expectativa de pecado-graça e vinculá-la ao ciclo de confissão-comunhão-pecado pode impedir que a pessoa faça a mais importante de todas as coisas: atentar honestamente para os valores que sutilmente estão por trás de suas ações....Impedimos que tais valores aflorem justamente ao permitir que o superego [parte da personalidade que reprime, condena] domine o padrão de conduta da pessoa, e lide com a culpa e sua manifestação em termos de ofensas contra Deus, sendo tais ofensas reparadas por alguma figura investida de autoridade. (John W. Glaser, “Conscience and Superego”, em Psyche and Spirit, também sem tradução, 1984)

  • O desenvolvimento moral, inseparável do desenvolvimento humano, mais abrangente, requer que se duvide e, numa etapa posterior, se duvide da dúvida, disse M. Scott Peck, autor de A trilha menos percorrida, para Psychology Today, dezembro 2002. A religião predominante difunde que feliz é quem não duvida. Ouvi em diversos sermões na igreja católica, entre 2002 e 2004, que se deve “fazer como a Virgem Maria e seguir sem discutir”.

  • O nível de desenvolvimento moral não passa do estágio inferior para cerca de 90% das pessoas, constatou Kohlberg, conforme em Personality Development in Adulthood (Desenvolvimento da Personalidade na fase adulta), Lawrence S. Wrightsman, editor. Aquele pesquisador desenvolveu uma teoria de estágios de desenvolvimento moral. A estatística apontada por Kohlberg está de acordo com as visões defendidas pela Fundação Logosófica, reproduzidas acima.

  • A fé cristã se diz guardiã de princípios elevados, de filosofia das mais sofisticadas. Contudo, observá-los em ação é outra coisa. Sabemos, também, que praticamente todas as grandes empresas (se não todas) ostentam a Qualidade como princípio estratégico-corporativo. Conduzem sessões e mais sessões de treinamento. Nem sempre, porém, o cliente fica convencido disso ao ser atendido por um empregado da empresa. Ao contrário. A filosofia nada pode operar, se o nível de desenvolvimento humano é o inferior, e há formação ou prática religiosa que o reforça.

  • As autoridades religiosas costumam alegar, diante de críticas e confrontações, que a Igreja sempre foi perseguida, uma afirmação espúria. Para fiéis pouco afinados com o saber, com o raciocinar, tal argumento basta para “mantê-los na fé”, talvez ainda mais convictos, já que são “perseguidos”. [A verdadeira origem da Igreja de Roma não é a que consta na história, na teologia, nos cursos de seminários. Nem de longe!]

  • Julgar, após a leitura livre, que determinados escritos tiveram inspiração divina é uma coisa. Ouvir, desde os quatro ou cinco anos, que em tais escritos está a palavra inquestionável de Deus é outra. Sem tal inculcação, quase ninguém, muito provavelmente, veria inspiração divina nos livros do Novo Testamento. Os evangelhos, em especial, são fartos de contradições devido a sucessivas emendas (várias obras não traduzidas para o português apontam isso). Traduzido (Cia. das Letras), temos o livro Apocalipse, do consagrado D.H.Lawrence, que discorre detalhadamente sobre aquele livro do Novo Testamento, apontando as contradições resultantes de emendas que descaracterizaram o que teria sido uma obra de origem pagã.

  • O hábito de leitura – leitura formadora – é praticamente inexistente entre nós. Nenhum dos católicos que entrevistei (todos de classe média, ou classe média alta) afirmou ter lido os evangelhos. Uma leitura pautada na análise crítica, então, deve ser considerada condenável.

  • O padre antes mencionado (compelido por uma leitura a despachar uma alma (eu) para o inferno) repetidamente afirma em seus sermões que tudo o que se escreve “por aí” não importa.

  • Não cabe, portanto, falar, estritamente, de liberdade de crença. Diante da restrição à informação, não se pode, mais especificamente, falar de liberdade de crença como direito do indivíduo. A liberdade de crença é vantagem para as autoridades religiosas, assegurando-lhes o domínio sobre informação e pessoas (inclusive crianças e jovens). Tal domínio tem sido exercido mais vigorosamente em países latinos desde a Reforma, quando a Igreja começou a perder fiéis na Europa.

  • O que garante tal domínio é, portanto, uma “liberdade” que conduz à religião por desinformação; por simples tradição. Domínio que é perpetuado pelo entrave ao desenvolvimento humano que a própria religião impõe. A nobre filosofia religiosa, na verdade, convive com a hipocrisia. Incapazes de viverem os princípios religiosos (o padre citado o ilustra), as pessoas são, então, freqüentemente lembradas, conforme testemunhei também, em recente celebração, de que o que acontece depois (da morte) depende de se crer ou não.

  • Em suma, o crente tem uma bizarra “liberdade”, seduzido por uma crença que versa sobre o desconhecido além, insistindo, igualmente, no desconhecimento aqui.

  • A boa vontade é muitas vezes ludibriada pela simples alegação de que para ser padre é preciso “estudar muito”. O crente, assim, acha que pode confiar inteiramente em “quem sabe”. Uma das verdades em O Código Da Vinci é esta: os próprios padres são ludibriados. Ninguém é tão doutrinado quanto aquele que precisa doutrinar, diz o livro.

  • Este tem sido, precisamente, o papel preponderante da teologia, que conseguiu impor a si o rótulo de ciência, provavelmente porque, como afirma uma edição de Superinteressante especial “Religiões”, que está nas bancas, em matéria de Vaticano, pagando-se tudo é possível. O que permitiu fundar faculdades para ensinar teologia (cristã – não havia outra) foram, naturalmente, recursos abundantes.

  • É ensinamento teológico que duvidar da Bíblia representa risco para o indivíduo e a humanidade. Com isso, chegou-se, em 1978, à Declaração de Chicago sobre a Inerrância da Bíblia, cujo teor encontrei no Manual de Teologia Sistemática – uma introdução aos princípios da fé cristã, disponível em grandes livrarias. Inerrância: a Bíblia é inquestionável, absoluta.

  • Em contraste, têm-se proposições científicas que, contudo, não podemos esperar encontrar, em português, divulgadas em periódicos como Veja, ou ao alcance fácil da visão em grandes livrarias. Esta, por exemplo:
    Sabemos que os textos neotestamentais [do Novo Testamento] ficaram expostos a modificações e manipulações durante longos séculos antes do controle do texto impresso (século XV/XVI)...e, sobretudo, durante aproximadamente cem anos que separam o tempo apostólico da vida de Jesus, das redações definitivas dos textos canônicos e apócrifos. (Eduardo Hoornaert, citado por Augustin Wernet, prof. Dr. do Departamento de História da USP[falecido, de repente, em 19/11/2006], em O “Jesus Histórico” e o “Cristo da Fé”: um histórico das “Vidas de Jesus”)
  • O “sabemos” da citação acima restringe-se a um grupo muito reduzido de estudiosos, que podem sofrer censura.

  • Isso corrobora a tese do autor de Quando a religião se torna um mal (When Religion Becomes Evil, já mencionado). “Quase ninguém saber” é sinal de que a religião está corrompida; ou seja, seu efeito não pode ser benéfico, além das fugidias sensações de leveza, insustentáveis no dia-a-dia. Sensações essas percebidas por seres com persistentes dificuldades – mantidas insuperáveis pela religião – em viver com plena lucidez e superioridade moral.

  • Eis mais trechos do livro de C. Kimball (When Religion Becomes Evil), que traduzo aqui:
    Cristãos que afirmam tomar a Bíblia ao pé da letra ou são ignorantes[desinformados] ou auto-iludidos. p.
    57
    ...convicções religiosas que se fazem pautadas em verdades absolutas podem facilmente levar pessoas a se verem como agentes de Deus [p.ex. George W. Bush]. Tais pessoas, “turbinadas” em intrépidas, são capazes de comportamento violento e destrutivo. p. 70
    A arguta observação de Shakespeare é oportuna: “Até o diabo pode citar as escrituras para seus propósitos”. p. 53
    Lamentavelmente, substancial número de pessoas são suscetíveis à retórica teológica simplista. p. 53

  • Também assim propôs a Fundação Logosófica, na publicação já mencionada, que encontrei nos arquivos de uma biblioteca, e não em bancas ou livrarias:
    As pessoas de curtos alcances mentais são propensas à credulidade, porque ninguém as ilustrou devidamente sobre os benefícios que o fato de pensar – e sobretudo saber – representa para suas vidas. Lamentavelmente, é forçoso reconhecer que uma grande parte da humanidade se acha nessas condições. (Logosofia, n 8, p.15)

  • Proponho que a propensão à credulidade está associada a uma incondicional rendição ao mais cômodo (em “Confrontação e amor; confrontação e amizade – duplas impossíveis? Então, impossível é o Caminho”, artigo de minha autoria, julho de 2004, não publicado). Kimball partilha da idéia: “É muito mais fácil “saber a verdade” do que procurar por ela. Mas uma vida [de fato] religiosa é uma jornada através da qual aprendemos, desaprendemos, mudamos e crescemos” (p. 68 de When Religion Becomes Evil).

  • Sem o crescer, o comportamento, dito religioso ou não, é inevitavelmente contraditório. Em 13.03.05, no caderno “mais!” (Folha), um professor da USP comentou recente biografia de João Paulo II, sob o título O papa paradoxal”.
  • Não faça a outros o que não querer que... No mesmo dia (24.02.05) em que a CNBB reclamava ao presidente da República ter sido excluída da comissão que irá discutir a descriminalização do aborto, também lê-se, no O Estado, que teólogo premiado foi “excluído” [pela Igreja] – Hans Küng, assessor no Concílio Vaticano 2, foi proibido de exercer a docência em universidades católicas (em 1979), por ter questionado a infalibilidade do papa.

  • Além de constatar a contradição em clamar para si um direito e, ao mesmo tempo, violar o mesmo direito de outrem, devemos, ainda, questionar: que impacto um infalível (ou seus representantes) causaria em um grupo de debate?

  • A infalibilidade do papa em questões de fé e moral foi determinada, nos ensina Marcos Guterman, na Folha (25.02.05), pelo Concílio Vaticano 1, em 1870. [Quem percebeu que o Vaticano foi finalmente costurado em 1929, mas desde 1870 já existe esse "primeiro Concílio"? Leiam minha tese....] Tal característica conferida ao papa, “entre outras coisas", garante o Vaticano como uma espécie de monarquia de inspiração absolutista” (p.A15). Que “outras coisas”, além da infalibilidade, seriam essas?

  • Muitos católicos a favor do aborto? Então, conclui o cardeal de São Paulo (Folha, 21.3.05), a Igreja deve estar falhando... na evangelização.

  • A doutrinação, porém, não se restringe mais ao Vaticano. Multiplicam-se, nos Estados Unidos, conforme aponta Education Digest (outubro 2004), grupos que “assessoram igrejas a cativar crianças e adolescentes com o evangelho de Jesus Cristo, de modo a treiná-las a servir a Ele” (p.48).

  • Tal assessoria inclui burlar determinação da Suprema Corte, que baniu, há 50 anos, a doutrinação nas escolas públicas, freqüentadas por 90% das crianças norte-americanas, diz a mesma publicação.

  • Se pais, nos Estados Unidos, estão recorrendo à Justiça, não me parece que o mesmo aconteceria entre nós. Colhi, recentemente, uma evidência disso, em conversa com um homem – cerca de 50 anos, classe média/média alta: “Já que a doutrina está estabelecida, é melhor deixar as coisas como estão”. Essa foi sua resposta, diante de algumas das proposições cientificas aqui apresentadas.

  • O que faz um adulto julgar ser “melhor” o status quo? A impossibilidade de rever sua crença após os 10 ou 13 anos?

  • Tal revisão é possível. Eu mesma a fiz. Mas, também, sou testemunha do isolamento social, das sanções e da evangelização ainda mais feroz empreendidos como reação ao “desaprender e crescer”, o que fortemente desestimula tal revisão.

  • Uma última citação de Charles Kimball: O medo, a insegurança e um desejo de proteger o status quo podem promover um tribalismo no qual pessoas, que de outro modo seriam ponderadas, autênticas, se engajam em padrões de comportamento desumanos, e até mesmo em guerra. (When Religion Becomes Evil, p. 87)

  • Esse é um quadro diante do qual a democracia, me parece, seria impotente. E isso me preocupa, especialmente ao associar tal quadro a um trecho do livro de João Paulo II, lançado há poucas semanas, segundo o qual “outras formas de governo são mais eficazes do que a democracia, em determinadas condições”. Ao mencionar “aristocracia e monarquia” como alternativas, estaria o papa excluindo o Vaticano? Justamente o contrário, assim me parece.

  • A liberdade do indivíduo está sendo desvirtuada até pela genética, que tem-se esforçado em demonstrar que a fé já está “escrita” nos genes. Sucintamente, contra-argumento que as idéias que têm norteado as pesquisas sobre fé naquele campo igualmente serviriam para alegar que mentir, p.ex., é determinado pelos genes, já que as reações físicas e psíquicas que o ato de mentir provocam podem ser, do mesmo modo que aquelas causadas pelo ato de crer, vinculadas a determinados genes. Em outras palavras, associar reações físicas e psíquicas a genes não permite afirmar que o que causou as reações é “inevitável”, dado que genético. Mas é precisamente essa a falácia por trás da “genética da fé” (p.ex., “Is God in our genes?” Time, 29.11.04, p.50-60).

  • Se rever a crença já constitui enorme desafio para quase todos, quem se mostra capaz de lidar com os vieses que, por vezes, permeiam a própria ciência? Não a pessoa desinformada; alienada.

  • “Sem saber exatamente o que a vida e seu destino lhe exigem saber, como poderá [a pessoa] cumprir sua missão de ser racional e livre”? (Logosofia n 8, p.15, grifos nossos)

  • Ninguém deve ser perseguido por crer. Mas devemos ver as alegações de perseguição, de “cristianofobia”, aventadas por líderes cristãos (Folha de S.Paulo, 08.12.04, p.ex.), como, essencialmente, meio certo de obter salvo-conduto que os torna tão acima de controles quanto... Deus.

  • É nessas condições que, ao estudar o comportamento do crente sob os fatores conhecimento, autonomia, consciência, percebemos que “liberdade de crença” desponta como uma contradição de termos. "Liberdade de crença" é liberdade na crença? Precisamos rever isso.
por Mariangela Pedro
escrito em 22 de março de 2005 (daí a ortografia antiga)

O revoltado: Camus


O revoltado, sem dúvida, exige para si um certo grau de liberdade. Mas, se ele é alguém consistente, não reclama, em nenhuma circunstância, o direito de destruir a existência e a liberdade de outros. Ele não humilha quem quer que seja. A liberdade que ele reivindica, ele a quer para todos. A liberdade que ele recusa, a todos ele proíbe que dela usufruam. Ele não personifica apenas o servo contra o senhor, mas também o ser em oposição ao mundo baseado em servos e senhores. Assim, graças à rebelião, há algo na história além da relação entre dominação e servidão. E o poder ilimitado não é a única lei. É devido a outro bastião [que não o poder] que o revoltado prega a impossibilidade da liberdade total, ao mesmo tempo que exige para si o tanto de liberdade que é imprescindível para que se atinja o reconhecimento daquela impossibilidade.
O revoltado
Alberto Camus
versão em português por Mariangela Pedro

PARA ENTENDER

Camus recorre a um modo complicado de dizer que o revoltado legítimo (na concepção dele mesmo, Camus) não quer a liberdade total. Ele aceita restrições à liberdade por ter reconhecido o Outro.

Declarar que se reza para que alguém "descubra Deus em seu coração" ou para que "se converta" é ferir tal princípio de liberdade. Justificar tal "oração" alegando que se quer o bem daquela pessoa, que se tem "compaixão" por ela é hipocrisia e fanatismo. Seria fundamental que se entendesse que quem faz isso não conquistou a liberdade para si - é um servo, sem o reconhecer.

Em decorrência, deveríamos, ao menos à guisa de argumentação lógica, admitir que um servo, como definido aqui, não tem como alegar que age em nome da liberdade.

Em outras palavras, não é livre todo aquele que, p.ex., não aceita que alguém não acredite em Deus. E, se ele alega que pode proclamar seu pensamento por ter direito à... liberdade de expressão, ele não entendeu Camus; tampouco entendeu Jesus. Declarar-se cristão é uma coisa. Seguir Jesus é bem outra coisa.

Não é, dito isso, tão difícil de entender por que o conceito de revoltado, segundo Camus, parece incompreensível para muitos, muitos seres.

Segundo aquele conceito, limite à liberdade de expressão. E não há liberdade ao se reclamar direitos que afrontam a existência de outros, como "direito" a fumar, a abortar, a afirmar que o ateu está "perdido" ou algo do gênero.
Mariangela Pedro


The Rebel: Camus


The rebel undoubtedly demands a certain degree of freedom for himself; but in no case, if he is consistent, does he demand the right to destroy the existence and the freedom of others. He humiliates no one. The freedom he claims, he claims for all; the freedom he refuses, he forbids everyone to enjoy. He is not only the slave against the master, but also man against the world of master and slave. Therefore, thanks to rebellion, there is something more in history than the relation between mastery and servitude. Unlimited power is not the only law. It is in the name of another value that the rebel aAffirms the impossibility of total freedom while he claims for himself the relative freedom necessary to recognize this impossibility.
The Rebel
Albert Camus


MAKING SENSE OF THE PASSAGE

Camus uses a complicated style to argue that the true rebel (in Camus' own conception) does not pursue total freedom. He takes restrictions to freedom because he has recognized the Other.

Declaring that one prays so that someone 'finds God in his/her heart' or 'converts him/herself' is to hurt such principle of freedom. Claiming, as a justification, that one cares about the other person, that one is 'compassionate', is actually hypocrisy and fanaticism.

It turns out to be fundamental to understand that the one who acts like that has not conquered freedom for him/herself - he/she is a servant, failing to recognize it.
Therefore, we should, at least in the guise of logical argumentation, admit that a servant, as here defined, cannot allege he behaves in the name of freedom.

In other words, there is no free human being whenever, e.g., that human being, who says to be a believer, does not accept that another one believes not in God. And then, if those who claim that they can outspeak their thoughts since the freedom of expression is granted, they have not understood Camus, neither have they understood Jesus. One can be a Christian. Following Jesus is another thing.

Having said all that, it is not so difficult to see why Camus' concept of rebel seems strange to many. According to that concept, there are limits to freedom of expression that are voluntarily accepted. Also, there is no freedom in claiming 'rights' that challenge the existence of others, such as the 'right' to smoke, to make an abortion, to say that an atheist is 'lost' or the like.
Mariangela Pedro
mariangelapedro @ yahoo.com